quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O PROCURADO


Tenho uma amiga que vende livros. Ela contou-me, há muito tempo, uma coisa curiosa. Que todas as semanas, quase sem excepção, lhe aparece um cliente à procura deste livro. Às vezes, dois ou três, como se estivessem combinados.

Mas este livro desapareceu, não está à venda. Numa sociedade de mercado parece estranho haver uma procura assim sem ser satisfeita. A minha amiga esforça-se por acalmar os clientes. O tempo passa. Nós vamos renovando a conversa quando nos encontramos. Ela descreve-me as perguntas sem resposta dos insatisfeitos da sua livraria e eu fico-me assim, sem comentários.

Outro amigo deixou-me entretanto fotocopiar um exemplar.

Hoje percebi que o livro pode ser integralmente descarregado da internet. Deixo aqui o link como quem devolve uma história roubada a todos os que durante anos passaram pela livraria e fizeram uma colecção de perguntas e às vezes interessantes comentários que colecciono num caderninho, sem saber bem para quê.


terça-feira, 4 de agosto de 2009

FUTEBOL E OBRINHAS


O Sporting acaba de beneficiar de um golpe de sorte como não há memória para ultrapassar a pré-pré-eliminatória da Liga dos Campeões. Com toda a probabilidade, será eliminado na próxima.

O modelo de gestão do Sporting, o que sobra do chamado "projecto Roquette", não tem qualquer futuro em termos desportivos.

A equipa está esgotada. Não tem um único lateral verdadeiramente competitivo, sonha com os melhores extremos do Mundo saídos de Alvalade, passa jogos inteiros sem cruzar devidamente uma bola e depende do penteado do Veloso para controlar o meio campo. Às vezes faz umas meias partes fantásticas, mas tanto joga bem como anda de gatas.

Na melhor das hipóteses, o Sporting poderá voltar a falhar por pouco, ou relativamente pouco, campeonatos que há uns anos seriam fáceis, como o do ano passado.

Qualquer autocarro de Paços de Ferreira lhe fará um caixão de pontos, a qualquer árbitro bastará um apito no momento certo para enterrar a equipa por completo.

O clube, de resto, desistiu há uns anos. A maioria dos adeptos engoliu o discurso da gestão certinha e dos milagres de São Bento e não põe os pés no estádio.

O que irrita mais no Sporting é a certeza de que teria ganho vários campeonatos com um pouco mais de investimento e gestão verdadeiramente desportiva. Há no mercado jogadores para as laterais, ou para fazer de cães a meio campo, que já teriam permitido ao Sporting, por pouco dinheiro, ter uma equipa sem andar todas as jornadas a sortear o número 2, o 3 e o 6.

Mas, para o Sporting, qualquer um é caro. O consórcio bancário que comprou o clube - e investiu ao mesmo tempo nos rivais - põe na tribuna administradores delegados com muitas competências, mas todas por azar estranhas ao futebol. Festejam umas taças, recebem prémios por segundos lugares, mas não ganham um campeonato nem fazem um único grande negócio.

O mais espantoso e revoltante é ver esses gestores conformados, quando se trata do dinheiro do Estado, defenderem exactamente o contrário.

Para um clube com a história do Sporting qualquer investimento é caro, mesmo que isso hipoteque a menor hipótese de sucesso desportivo e condene um bom treinador e alguns grandes jogadores a anos de frustrações e carreiras a seco.

Já para um Estado endividado e pobre como Portugal, onde quem trabalha por conta de outrém não tem como pagar mais impostos, qualquer obra é boa, sobretudo se o preço for caro.

Filipe Soares Franco deveria contentar-se com o seu curriculum de brincadeiras futebolísticas, do qual ninguém guardará memória. Porque não vai antes vender as suas obrinhas para a Holanda? Os do Twente não precisarão de um novo estádio, já que este lhes deu tanto azar?

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

FAUSTO: A GRANDE NOTÍCIA



Das férias, trago uma grande notícia. Vai ser possível voltar a ouvir Fausto ao vivo.

Parece que vai ser em Lisboa, lá para Setembro ou Outubro, no Campo Pequeno.

Fausto é a minha notícia. Mas, na verdade, ouvi falar de um espectáculo conceptual a três: Fausto, José Mário Branco e Sérgio Godinho.

Fausto é uma fixação minha, talvez porque só o ouvi ao vivo uma vez.

José Mário Branco engoliu a revolução, o sonho e a mentira, a cobardia e a loucura colectivas, Apolo e Dionísio. E numa noite vomitou tudo: O FMI, que passei na rádio e ouvi em casa do João em Coimbra (1) (2), para mim é a canção de intervenção.

Sérgio Godinho é poesia: o músico que faz a língua estrebuchar.

Fausto, ainda assim, tornou-se o meu preferido. Na música dele parece caber o tempo e a terra toda deste país. Quando tenho dúvidas de que Portugal existe ponho Fausto a tocar e fico sempre viciado outra vez.